Foto por Aphiwat chuangchoem no Pexels
Produtos extraídos da cannabis ainda são tabu no Brasil. Agora, essa realidade está mudando com os resultados comprovados em pacientes com condições críticas, como epilepsia, dor crônica e depressão. Continue lendo para entender.
A Cannabis Medicinal não para de crescer no Brasil. Os produtos se tornaram a esperança de diversas famílias que lutam na justiça pelo direito de uso dos medicamentos para doenças que não apresentam resultados com as drogas tradicionais.
Em junho de 2022, em entrevista ao g1, Priscila Guterres Moraes, de Roraima, compartilhou que ouviu o filho autista falar “eu te amo” pela primeira vez em 8 anos. Para a mãe de Levi, a alteração no comportamento do filho é visível depois de apenas um mês usando o óleo a base de CBD.
O médico que recomendou o tratamento, Wilson Lessa, afirmou que os níveis de endocanabinoides, ou seja, aqueles produzidos pelo próprio corpo, são reduzidos em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Falaremos mais sobre o cenário da Cannabis Medicinal no Brasil. Continue lendo!
O que são produtos de Cannabis?
A Cannabis Medicinal é extraída e preparada a partir das plantas da espécie Cannabis sativa, que conta com mais de 500 compostos químicos diferentes. Os mais populares, no entanto, são os conhecidos como fitocanabinoides.
Já foram descobertos mais de 145 fitocanabinoides pela ciência e os mais conhecidos atualmente são o THC (tetrahidrocanabinol) e CBD (canabidiol).
Quais doenças podem ser tratadas com Cannabis?
Um dos primeiros problemas de saúde tratado com a Cannabis sativa no Brasil foram as convulsões sucessivas da menina Sofia, portadora da Síndrome CDKL5. Em 2013, Margarete Brito, mãe de Sofia, desafiou a justiça ao importar o canabidiol ilegalmente.
Segundo Margarete, a menina tem menos da metade das convulsões, resultado que seria impossível com os medicamentos tradicionais. Em 2016, a advogada recebeu o aval da justiça para cultivar maconha para fins medicinais em casa.
Desde então, diversas patologias passaram a ser tratadas com Cannabis Medicinal no Brasil, as mais conhecidas são: epilepsia, depressão, ansiedade, autismo, dor crônica, Parkinson, demência, Alzheimer, esclerose múltipla, dermatite, diabete, endometriose, fibromialgia e câncer.
Os benefícios não param por aí. Os medicamentos também ajudam em quadros de
estimulação de apetite, distúrbios do sono, recuperação muscular, insônia, etc.
A Cannabis Medicinal no Brasil
A luta pela liberação dos medicamentos à base de Cannabis no Brasil começou há mais de 10 anos quando a sociedade tomou conhecimento das propriedades medicinais do canabidiol para certas condições de saúde, como a epilepsia.
Em 2014, foi lançado o documentário “Ilegal” que narra a história de famílias brasileiras em busca de maconha medicinal. No entanto, foi apenas em 2015, após intensa pressão na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) que a liberação e importação dos produtos foi finalmente autorizada.
Em 2017, o número de formulários liberados para importação dos produtos era de 2.101. Já em 2021, subiu para 32.416 liberações, um número 15 vezes maior. No último ano, o total de pedidos foi de 70,4 mil.
De acordo com a Kaya Mind, empresa de inteligência de dados voltada para o mercado da cannabis, em 2021 ocorreu uma movimentação de R$130 milhões no país, considerando apenas os produtos importados autorizados pela Anvisa.
Ao todo, já são 18 produtos de Cannabis aprovados pela Anvisa no Brasil. Desse número, oito são à base de extratos de Cannabis sativa e os outros dez, do fitofármaco canabidiol.
Associações não param de crescer
Enquanto a cannabis medicinal não é legalizada no Brasil, a solução que as famílias encontraram foi a criação de associações. As instituições oferecem desde apoio jurídico aos pacientes para autorização do plantio, até ensino do cultivo da planta e distribuição de produtos a preços mais acessíveis.
A Associação Brasileira de Apoio Cannabis Esperança (Abrace), é pioneira no país e já conta com mais de 35 mil associados. Em 2019, tinha apenas 14 funcionários e hoje conta com quase 200 colaboradores.
Outra importante associação que luta pela liberação do direito do cultivo individual da cannabis e a democratização do acesso aos tratamentos medicinais é a Associação Brasileira para Cannabis (ABRACannabis), fundada em 2015.
Conclusão
Apesar do progresso nos últimos anos, a liberação e democratização da Cannabis Medicinal tem um longo a caminho a percorrer em território brasileiro.
Associações, como a Abrace, desempenham um papel fundamental nesse processo, mas não conseguem atender toda a demanda sozinhos.
A legalização continua sendo impactada pela opinião pública e conservadorismo religioso. Esses grupos acreditam que o uso medicinal e recreativo podem se misturar e perder o propósito para fins de saúde e tratamentos de doenças.
Uma vez que a opinião do público desempenha um papel fundamental na liberação dos medicamentos, é importante criar ações e plataformas de comunicação com intuito de informar a população sobre os benefícios dos produtos para a saúde.
Se a legalização ainda é um tabu, a melhor maneira de mudar isso é educando a população para as diferentes formas de uso da maconha e os benefícios para as pessoas que estão sofrendo por não alcançarem um tratamento que já existe.